Um experimento foi feito pela Direct Apply (uma plataforma para pessoas que querem encontrar um novo emprego), que conversou com psicólogos e conselheiros para desenvolver a Susan, um modelo de como seria o físico do “trabalhador médio” após vinte e cinco anos de home office — uma pessoa mais parecida com um “monstro” do que com um ser humano. De acordo com o modelo criado pela empresa, a Susan é uma pessoa obesa (devido a falta de exercícios físicos), com pele pastosa e pálida (devido à falta de exposição à luz do sol), adquiriu uma corcunda (chamada também de “tech neck” ou “pescoço tecnológico”) por passar muito tempo olhando para o celular, o olhar cansado por passar o dia inteiro olhando para a tela do computador, além de ter níveis de stress mais altos pela falta de contato com outras pessoas.
Um retrato real do trabalho remoto?
Apesar de trazer alguns alertas interessantes, não se deve levar tão a sério o modelo criado pela Direct Apply. Susan não é exatamente um criação baseada em extensos estudos científicos, mas está mais próxima de uma caricatura de como pessoas que não estão acostumadas com a ideia de trabalho remoto enxergam esses profissionais. A ideia de se trabalhar de casa não é algo que surgiu com a pandemia de COVID-19, e há anos existem profissionais que trabalham exclusivamente de forma remota — e nem por isso se tornaram “monstros”. Isto acontece porque a Susan é baseada não exatamente na realidade dessas pessoas, mas no extremo da ideia de trabalho remoto — no caso, o que aconteceria se uma pessoa, que não pratica qualquer outra atividade além de trabalhar, ficasse 25 anos escrevendo no computador em ambientes inadequados, sem ver a luz do sol e cuja única atividade física seja se levantar da cadeira e ir para a cama. Por exemplo, o motivo dado para a postura de Susan é o fato de ela trabalhar em ambientes que, ao contrário dos escritórios, não foram preparados para uma pessoa ficar longos períodos de tempo sentada confortavelmente na frente de um computador. Isso é realidade: muita gente não possui em casa cadeiras, mesas e equipamentos desenvolvidos para se ficar oito horas sentadas digitando em um computador. Mas isto ocorre justamente porque essas pessoas nunca precisaram trabalhar dentro de suas casas — e este cenário tem mudado rapidamente desde o início da pandemia, com um aumento na procura por móveis de escritório. Outras preocupações se mostram um exagero que desconsidera a realidade, como o tempo que a pessoa passa olhando para um tela. Isto pode até fazer diferença em alguns casos (como alguém que passava a maior parte do dia em reuniões presenciais e agora precisa realizar elas por videochamada) mas a realidade é que boa parte dos trabalhadores já passavam o dia inteiro olhando para uma tela, seja trabalhando no computador, mexendo no celular durante a viagem de ônibus ou relaxando em casa enquanto assistem um filme. Essa ideia de que o excesso de telas possa causar problemas de saúde não é algo exclusivo do trabalho remoto, mas uma preocupação de todos que precisam interagir com as atuais e novas tecnologias. Além disso, os próprios trabalhadores parecem estar gostando da ideia do trabalho remoto, com pesquisas indicando que uma grande parte deles gostaria de não precisar voltar ao escritório. E esse contentamento também pode ser bom para as empresas, já que desde antes da pandemia existiam experimentos que mostravam como este regime de trabalho poderia aumentar a produtividade dos funcionários. Claro, algumas recomendações feitas pela Direct Apply deveriam ser seguidas por qualquer trabalhador (seja ele remoto ou não), como se exercitar diariamente, delimitar quais são seus horários de trabalho e os horários de lazer, criar uma rotina e garantir que se esteja sempre em colaboração com seus colegas de trabalho (mesmo que virtualmente). Mas, a não ser que você abdique de qualquer interação social, dedique toda a sua vida a utilizar o notebook deitado na cama e nunca mais veja a luz do sol, dificilmente você se tornará uma “Susan” mesmo que nunca mais volte a trabalhar em um escritório. Fontes: Direct Apply, WRCBtv, RTE, BBC