Oito histórias que fazem uma saga
Uma das maiores sacadas de SaGa Frontier é não ter um personagem principal, mas sim oito. Cada um deles possui a sua própria personalidade e história, e, de algum jeito, elas acabam se entrelaçando, e eventualmente eles se juntam, o que facilita e muito a jornada. Ou seja, é muito bacana encontrar um dos outros personagens jogáveis e ele acabar se juntando ao personagem que estamos usando, contudo, isso varia de personagem para personagem. Para acompanhar a história, há uma seção exclusiva para se verificar detalhes e o resumo de tudo o que tenha acontecido até aquele momento. Além disso, é possível ver qual o próximo destino da jornada. Todas as histórias acontecem no mesmo universo, chamado de The Region (A Região, em tradução literal). Esse mundo é formado, basicamente, por um complexo de planetas onde cada um deles possui sua própria mitologia, tecnologias, credos, especialidades e pessoas. Há locais com toques tradicionais japoneses, com dojos, jardins e lojinhas. Outro é uma imensa favela com túneis subterrâneos próximo do esgoto. Há também um porto muito bonito com casinhas e uma imensa mansão abandonada cheia de segredos, entre muitos outros locais. Os cenários são pré-renderizados, ou seja, é como uma imagem estática onde o personagem passa por cima sem necessariamente interagir com ele. E essa sendo uma versão remasterizada, eu posso dizer que fiquei bastante feliz com o resultado, já que tudo é muito bonito e bem feito. Além disso, os personagens também são bem carismáticos e exalam a sua própria personalidade, e as artes usadas entre as transições de cenários ou interlúdios da história foi magnificamente bem feita pela artista Tomomi Kobayashi, que já trabalhou em uma série de jogos da franquia SaGa.
Entre espadas e revólveres
SaGa Frontier mistura perfeitamente elementos medievais com traços futuristas. Os personagens podem utilizar desde os punhos e descer bordoadas nos inimigos, até os clássicos revólveres com calibre 38, katanas japonesas ou sabres de luz. Tudo vai da forma que você quer evoluir, e do dinheiro disponível também. Para se ganhar novas habilidades, é necessário batalhar muitas e muitas vezes. Eventualmente eles vão “ter uma ideia” e uma nova habilidade surgirá. Isso vale tanto para golpes com os punhos, com espadas e facas. A única exceção a essa regra são as magias, que podem ou não serem adquiridas através de dinheiro em lojinhas espalhadas pelos mundos. Outra característica bem própria de SaGa Frontier é a forma de se ganhar pontos de atributos. Os famosos pontos de experiência vistos em jogos como Final Fantasy e Dragon Quest não existem, e para se aumentar os atributos temos que usá-los, efetivamente. Explico: para ganhar pontos com espadas, precisamos acertar adversários com elas equipadas. O mesmo vale para os punhos, e por aí vai. Com o tempo, ganhamos novas habilidades e movimentos especiais, conforme dito acima. Em alguns momentos, dependendo da afinidade dos personagens, eles vão utilizar tais golpes em conjuntos, causando dano massivo nos adversários. E falando neles, a discrepância de força entre eles é, por vezes, absurda. Em um dos cenários é possível dizimar todos à volta com extrema facilidade, e na parte seguinte receber dois golpes e ser destroçado. Fugir dos combates é relativamente fácil, mas com isso não se sobem os atributos, o que dificulta em se seguir o jogo, e por aí vai.
Um jogo punitivo
SaGa Frontier não está nem aí para seus sentimentos, ele vai te punir. Se você explorar de menos, ou não conversar com todos os personagens na tela, acabará perdendo algum aliado, o que deixará a sequência da jornada mais complicada. Por exemplo, na minha primeira jornada, acabava sempre ignorando um ou outro pelo caminho, e acabei sozinho. Para piorar mais ainda, acabei me adiantando ao visitar um dos mundos, e entrei numa construção cheia de máquinas, mas só percebi que havia cometido um erro quando fui enfrentar o chefão, e acabei sendo aniquilado. Mas como havia salvo pela última vez dentro daquele local, e por mais que eu criasse estratégias e subisse de nível, nada adiantou. No fim, acabei perdendo tudo e só me restava começar aquela rota de novo. Com outro personagem, eu fiz o oposto. Passei por diversos locais antes de começar a história. Falava com todo mundo, juntei uma equipe bacana, conquistei bons equipamentos e magias, mas, ao chegar em uma cidade, e após conversar com uma menina, acabei indo parar em um depósito, e depois de explorar tudo, e chegar no grande chefão do local, fui dizimado. Resolvi então passar umas horinhas treinando, mas ainda assim não consegui chegar no mesmo nível dele, e como novamente havia salvo naquele local, só me restou recomeçar a história. Minha sugestão é sempre deixar o game salvo em diversos pontos, e também abusar do uso do recurso de salvamento rápido. Infelizmente, para mim, só fui perceber isso meio tarde, como mostrado acima.
Muito além da trilha sonora
Seguindo a excelente tradição da Square Enix, SaGa Frontier possui uma das melhores trilhas que já vi até hoje. Contudo, não há nenhuma semelhança com as canções vistas em Final Fantasy, por exemplo. As músicas seguem um padrão mais moderno, e elas se adequam perfeitamente a cada uma das situações. No cassino, a música é agitada e alegre, em uma cidade pacata ela é serena e calma, e por aí vai. O responsável pela trilha sonora é Kenji Ito, que é veterano na área, tendo trabalhado em diversos outros títulos da franquia SaGa, além de ter contribuído em vários outros jogos dentro da Square Enix. Seu trabalho é sofisticado e tranquilo, e mesmo as canções que causam um sentimento de maior urgência são boas de se ouvir. É impressionante como ele consegue ser diametralmente oposto ao estilo de Nobuo Uematsu, falo isso não como um demérito, já que o pai da trilha sonora de Final Fantasy é sensacional.
A saga de SaGa Frontier Remastered
SaGa Frontier não é um jogo para todo mundo. Seu sistema de progressão de pontos de atributo e desenvolvimento de habilidades e poderes é bem diferente dos tradicionais JRPGs que usam pontos de experiência e podem acabar assustando quem não está acostumado. Mas com um pouco de jeito e persistência, qualquer um pode encarar a história. Outro fator que pode atrapalhar é o fato de o game não estar em português, já que nem tudo é tão claro assim e não há setas ou pontos dizendo aonde ir. No geral, SaGa Frontier é muito bom, apesar de desafiador. Recomendo-o principalmente para os fãs do gênero. E afirmo ainda que esse remaster ficou belíssimo. O que também me deixa empolgado para os demais títulos que estão por vir.