Desde seu anúncio e posterior atraso de um ano, as expectativas pelo único projeto da Rockstar Games para a atual geração de consoles eram altíssimas — ainda mais após o sucesso crítico e comercial de Grand Theft Auto V. Dezenas de horas após cavalgar pela primeira vez nesse mundo gigantesco e denso, posso afirmar que boa parte das promessas foram cumpridas.

Escória da sociedade

A jornada da gangue começa com um assalto fracassado no distrito de Blackwater, resultando na morte de um dos integrantes do bando e obrigando Dutch van der Linde a repensar suas estratégias. Dispostos a continuar no mundo do crime, o líder e seus comparsas das mais variadas origens e personalidades decidem que devem se esconder por um tempo — pelo menos até a poeira baixar. As necessidades e crises, porém, batem à porta — mesmo que a casa dos “selvagens” domados por Dutch sejam, em sua maioria, acampamentos. Os integrantes, as famílias e até os agregados precisam sobreviver, mas precisam lidar também com a fuga. É no processo entre sepultar o fim do velho-oeste e aceitar o advento da civilização que você, no papel de Arthur Morgan, entra em ação. Há todo tipo de indivíduo no bando, ou seja, a representatividade para o contexto da época é elogiável. Homens e mulheres, negros e índios, leais e desonestos, todos convivendo em meio às adversidades sociais. A única ressalva fica por conta da empatia que criei por poucos membros do bando, já que a maioria parecia ser genérico demais ou pouco profundo para que eu pudesse me importar.

O custo da liberdade

Arthur e seus comparsas estão constantemente em perigo e devem se proteger tanto de homens da lei como de gangues rivais, como é o caso dos Lemoyne Raiders e dos O’Driscoll. Para tal, ficar alerta mesmo enquanto cavalga pelo mundo é essencial. O perigo pode surgir na forma de caçadores de recompensa — que querem a cabeça dos membros do bando a qualquer custo —, mas também emerge quando Arthur decide ajudar os fracos e oprimidos em eventos aleatórios que surgem próximos a ele. Você deve gerenciar as armas que levará com você durante as batalhas, já que apenas duas armas pequenas e duas de grande porte podem ser carregadas por vez pelo caubói — o que faz sentido em uma premissa mais realista. Seu cavalo e as melhorias aplicadas à sua sela determinarão quantas armas podem ser carregadas. Além disso, é importante cuidar de suas armas, pois mantê-las limpas é crucial para um melhor funcionamento. A movimentação é bem realista, mesmo que haja um atraso entre nosso comando e sua execução no jogo. A utilização do cenário como proteção contra projéteis é bem-vinda, já que há sempre muitas alternativas para usar como “escudo”. Algumas armas exigem carregamento manual, fazendo cada tiro contar. A reação de Arthur aos disparos, bem como o dano causado aos inimigos, é visualmente impressionante por conta dos detalhes. As lutas corpo-a-corpo, por sua vez, não chegam nem perto da precisão e ritmo dos tiroteios. O deslocamento dos membros superiores é truncado e são poucas as opções de golpes. Limitadíssimo e bem decepcionante, a melhor opção é sacar sua arma de forma ágil e acertar um tiro a queima roupa no inimigo.

Lidando com seus status

Os sistemas que regem o mundo e tudo aquilo que vive e funciona dentro dele mimetizam, grosso modo, as premissas de um simulador, mas sabem também usar da liberdade poética da ficção para dar um tom mais descontraído. Arthur Morgan pode dormir, comer, beber café e consumir tônicos para revitalizar seu estado de saúde, fôlego ou dead eye (recurso que permite desacelerar o tempo durante duelos e conflitos). Sua montaria também precisa de cuidados: cavalos acumulam poeira e também podem ficar sujos de sangue quando carregamos animais mortos em sua sela, motivando o jogador a escovar seu fiel companheiro equino ou a cavalgar por um local com água limpa. Cuidar constantemente dos status de fôlego e saúde do animal, bem como acalmá-lo durante momentos críticos, faz parte da experiência e promove um melhor relacionamento entre o protagonista e sua montaria.

A cidade e as serras

O contraste entre as responsabilidades do acampamento e o oportunismo urbano se torna mais visível à medida que progredimos pelos capítulos da trama: cortar lenha, saquear cofres de bancos, buscar água no lago, cobrar débitos de agiotagem, planejar melhorias na infra-estrutura do acampamento, caçar animais selvagens — tudo isso sem mencionar qualquer evento da história principal. A exploração do mundo é recompensadora, seja encontrando locais visualmente marcantes ou promovendo interações inéditas com NPCs para desbloquear novas tarefas. Diversas localidades do mapa são apresentadas durante as missões — que geralmente tem objetivos bem variados, mas que passam bem longe da excelência em sua maioria. Algumas das melhores missões oferecidas são opcionais e entregam mensagens mais reflexivas por meio de um escopo mais reduzido. A promessa de um bando reativo às ações de Arthur Morgan foi cumprida parcialmente. Você pode interagir com os membros por meio de pequenas conversas, mas eles nem sempre estão dispostos a conversar — o que indica que grande parte da comunicação entre você e os outros integrantes da gangue é inerente aos eventos das missões principais. Minha maior crítica é sobre a falta de integração dos diversos sistemas em prol de narrativas mais pessoais. Em um dado momento, por exemplo, doei uma quantia em dinheiro ao bando, mas logo em seguida fui abordado por um dos membros — que me alertou sobre a importância e responsabilidade de minhas contribuições. Isso me incomodou, pois eu já havia doado, mas o jogo parecia não ter notado por conta do distanciamento entre seus próprios sistemas.

O grande destaque

Red Dead Redemption 2 apresenta um dos três mundos abertos mais destacáveis dos últimos cinco anos, dividindo o pódio com gigantes como The Witcher 3: Wild Hunt e The Legend of Zelda: Breath of the Wild. Enquanto o primeiro usa o mundo em favor do role playing e de quests memoráveis e o segundo revoluciona o conceito de exploração e gameplay emergente, Red Dead Redemption 2 foca na imersão proporcionada pela quantidade de detalhes, fotorrealismo e vida ao seu redor. A fauna e flora do mundo, bem como a diversidade de biomas e ambientes, impressionam tanto pela quantidade como pela qualidade. Caminhar pela neve à procura de um velho companheiro, cavalgar por extensas planícies áridas, camuflar-se em densos bosques verdejantes, explorar ruínas históricas e desbravar um perigoso pântano profundo conferem ao jogador a sensação de sempre estar em um lugar visual e estruturalmente distinto. A interação entre elementos do mundo aberto e personagens leva a física às últimas consequências, causando acidentes, por exemplo, pelo descuido do jogador que deixou de prestar atenção em um caminho estreito potencialmente perigoso para os passageiros pendurados na parte externa da carruagem. Além disso, o “palco” das missões — principalmente os ambientes internos, como edifícios e propriedades — é bem construído para ampliar a sensação mútua de insegurança e heroísmo dos tiroteios.

As cores e os sons do faroeste

O esforço dos desenvolvedores em criar localidades tão detalhadas e fiéis à realidade da época é digno de aplausos. Red Dead Redemption 2 te prende tanto pela construção de grandes distritos urbanos quanto pela natureza que enaltece o quão orgânico o mundo aberto realmente é. A iluminação valoriza ainda mais a vegetação, principalmente em ambientes com uma grande quantidade de elementos naturais. A apresentação da jornada de Arthur Morgan ganha um tom cinematográfico graças às barras horizontais adicionadas durante os últimos meses de produção do jogo — não que esse recurso tão agradável justifique a polêmica envolvendo o excesso de horas extras realizadas em diversas oportunidades por grande parte da equipe de desenvolvimento. Com apenas um botão, Red Dead Redemption 2 permite trocar as fugas em terceira pessoa para a perspectiva em primeira pessoa, agradando a um público maior com o uso desse recurso. As duas perspectivas funcionam muito bem, dando a impressão de que o jogo foi realmente pensado para funcionar bem com ambas as opções. Além disso, uma variedade de câmeras cinematográficas podem ser ativadas opcionalmente durante toda a aventura para tornar as cenas ainda mais espontâneas e naturais. O design e direção de som, seja no voice acting ou nos fenômenos ocorridos pelo mundo, são realmente impressionantes, com detalhes que vão desde a distinção de voz entre cada NPC encontrado até o barulho de um corpo rolando lentamente sobre neve. A trilha sonora é muito impactante e intensifica eventos narrativos, contribuindo para que emoções e mensagens implícitas fiquem mais evidentes.

Expandindo a experiência em Red Dead Redemption 2

Assim como Grand Theft Auto V, o novo jogo da Rockstar Games recebeu funcionalidades de jogo online. Intitulado Red Dead Redemption 2 Online, esse recurso se encontra atualmente em modo beta — ou seja, ainda há muitos testes sendo realizados para que tudo ocorra como previsto após o lançamento oficial. Jogadores devem atualizar seus consoles e o próprio jogo para terem acesso a esse tipo de conteúdo, que é distribuído gratuitamente. A experiência multiplayer, que conta com missões cooperativas e modos PvP, lembra muito Grand Theft Auto Online em sua essência. Porém, a instabilidade de servidores ainda atrapalha em algumas partidas. Quando chegar oficialmente em seu modo completo, RDR 2 Online promete diversificar e inovar em seus modos de jogo, trazendo também um modo Battle Royale inédito.

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