Quer saber mais? Confira mais detalhes de como foi o episódio dessa semana de A Casa do Dragão: Lembrando: esse texto contém spoilers!

Rhaenyra Targaryen, uma flor desabrochando

Após o rito de passagem pelo cervo branco no episódio 3, Rhaenyra (Milly Alcock) teve seu confronto com a realidade: precisa se casar. A notícia boa para ela é que como princesa e protagonista, tem a possibilidade de escolher com quem casar. Apesar de todos seus privilégios, ela não quer casar. A cena de abertura do episódio 4 é, em resumo, isso: a princesa dispensando todos os pretendentes, pois, nenhum chama sua atenção, mesmo com essa possibilidade de, como princesa, poder buscar pelo romance de sua vida; isso é algo novo para Westeros, fato confirmado por comentários da rainha Alicent (Olivia Cooke). Mesmo neste contexto, o que importa a Rhaenyra Targaryen em sua viagem é quando, após desistir de todos os lordes que se ajoelharam e pediram sua mão, vê o dragão de seu tio em Porto Real. É óbvio: a tensão entre os dois personagens esteve em todas as cenas deles, até mesmo no primeiro episódio. Com a volta do tio Daemon (Matt Smith) e a notícia de vitória na guerra contra o Engorda Caranguejos, é dado um almoço para a família real e alguns lordes mais próximos, servindo como fio condutor para os temas que se discutem no episódio, sendo os principais: casamento, amor e sexo. Esses tópicos entram na trama através de uma conversa da rainha Alicent com Rhaenyra, tentando explicar que o casamento não é apenas amor, é dever também. Felizmente, isso é desconhecido da princesa que age como uma revolucionária. Ela alega que não quer casar apenas para dar herdeiros ao marido, muito menos para cumprir uma agenda. Não, ela quer amar, ser amada, mas o episódio toma outro rumo. Dividido em duas linhas narrativas, o episódio acompanhará Rhaenyra em sua jornada de autoconhecimento sexual e Alicent na frustração de ser casada por dever. Nesse ponto, o episódio foi magistral e soube pincelar sutilmente essa divisão misturando elementos. Nas cenas da princesa durante esse descobrimento — conversaremos mais a frente, os elementos são mais arenosos. As cores amareladas e movimentos rápidos e o efeito de ter véu em nossa visão dá a impressão de, conforme a princesa descobre seus prazeres, a imagem se torna nítida. Os elementos de cenas de Rhaenyra são bem mais divertidos, mostrando sua aventura pela cidade “baixa” — parte mais pobre e moralmente questionável de Porto Real. Essa aventura de fugir a noite do castelo e conhecer lugares impróprios é outro rito de passagem, forçando a princesa a crescer. Enquanto isso, a rainha é narrada com tons frios, puxados ao azul. Esse contraponto é nítido nas cenas também. Alicent pode ser vista com um bebê de colo, seu filho mais novo, chorando em prantos, depois, tentando dormir, e, por fim, indo servir ao rei. Antes de comentar a cena mais importante do episódio (um interessante paralelo sobre sexo entre pessoas livres e presas em diferentes condições da vida), precisamos conversar um pouco sobre Daemon. Afinal, por que ele voltou, né?

Daemon Targaryen voltou para quê?

No episódio 3, Daemon Targaryen acabou com a guerra contra o Engorda Caranguejos. Em tese, o único dever real que o príncipe teve nos últimos tempos era exatamente essa guerra. O seu fim marca também o possível término de seus conflitos com o rei Viserys (Paddy Considine). E é isso que acontece. Os irmãos se conciliam na frente de todos, chegando a se abraçar. A relação estava ótima, tudo certo e perfeito, mas algo que me incomodou: por que Daemon voltou? Afinal, sejamos francos, por qual motivo o príncipe, após tantas cenas de revolta ao rei, voltaria a Porto Real e pior: por que voltaria a ser amigo de seu irmão? A resposta é fácil. Daemon queria ver sua sobrinha, ter com ela a oportunidade que sempre quis. A aventura de escapar tarde da noite do castelo, levá-la aos cantos mais suspeitos da cidade, não foi apenas uma aventura para diverti-la, era uma forma de acessar seus desejos. E isso acontece quando o príncipe a leva em uma casa dos prazeres — que, aliás, é um nome ótimo para se referir a bordéis. Com um discurso digno de um esquerdo macho, Daemon conta a Rhaenyra que o sexo é uma liberdade, e uma das mais importantes. Ele conta que a princesa virgem é protegida de todo o “mal” pela realeza, que as pessoas buscam a liberdade pelo prazer sexual, assim como ele. Essa busca pelo prazer mais tarde será replicada por Rhaenyra, quando contestar ao próprio pai porque um homem pode ter bardos e continuar sendo admirável. Por fim acontece o que muitos fãs desejavam: eles se beijam e em seguida começa uma pseudo cena sexual, interrompida porque Daemon desiste das vias de fato e vai embora. Sim, ele tenta transar com a sobrinha e quando percebe o “erro” larga a menina em um bordel. O pior é que, pensando bem, há fãs que desejam mesmo ver incesto. De toda forma, é apenas mais um domingo normal na família Targaryen. 

A tal cena e o paralelo entre rainha e princesa

Acredito que essa cena merece um destaque e comentários importantes. Quando começa a aventura da princesa com seu tio errante, Alicent é ouvida e vista com o filho, mesmo tarde da noite. Ela tem quase a mesma idade que Rhaenyra, então, sim, é triste ver como uma jovem está fadada, totalmente sozinha, ao dever. Enquanto uma jovem está assistindo a um teatro de humor, bebendo, brincando de fugir de seu tio, outra está deitada esgotada na cama, tentando dormir. Ao invés de conseguir descansar, Alicent é convocada pelo rei. Para quê? Simples, para servi-lo como mulher. Na cena de sexo, Rhaenyra está feliz, entende o que sente pelo tio e o incentiva com atos bem diretos. Enquanto eles tentam ficar juntos, a cena é “divertida”, consensual e demonstra esse pequeno momento juntos. Porém, ainda continua sendo uma cena de incesto. Em contramão disso tudo, Alicent está deitada por obrigação, servindo ao rei por obrigação. Seu olhar parado, corpo paralisado embaixo do rei com as feridas é apenas uma pequena parcela da realidade da rainha. A falta de desejo, a falta de vontade. As duas cenas se juntam quando as personagens se encontram no dia seguinte, e conversam sobre os boatos da princesa estar em um bordel. Alicent demonstra preocupação com a amiga, mas não sabe como de fato ajudá-la com o conflito do rei. Também há uma mistura de cenas conforme Rhaenyra descobre que se casará logo mais, e se o casamento será uma mitigação da liberdade sexual recém-conquistada.

Alguns momentos de Viseyrs

O trono está ruindo e pior: está machucando Viserys. Não apenas de forma figurada, mas também, literal. O rei com feridas que não se fecham sempre se machuca de novo no trono de ferro. O quadro de saúde dele teve uma piora considerável. Podemos ver pelos dedos negros e quase petrificados, pelas feridas em suas costas, Viserys está morrendo. Para piorar, sua filha se tornou alvo de fofoca do Verme Branco — a própria Myseria, ex-noiva de Daemon, e quem lhe contou foi Otto Hightower. Pois é, a Mão do Rei, sogro e vovô do único filho homem de Viserys foi o mensageiro da terrível fofoca. Mesmo com cuidado ao contar, o rei lhe acusa de conspirar contra a princesa. É óbvio que Otto queria plantar a discórdia e mostrar ao rei que a princesa não é tão perfeita. Essa quebra de pureza da princesa significa mais abertura para seu neto estar como herdeiro direto. O bom é que ele consegue. O ruim é que a discórdia de Viserys reflete em todos os personagens, começando com Alicent, ignorada pelo rei. Depois de um café da manhã, Viserys discute com seu irmão Daemon. O príncipe tenta pedir a mão da sobrinha em casamento, mas, pela primeira vez no seriado, o rei pega em uma arma e ameaça matar o irmão. O melhor é que Viserys, pela primeira vez em 4 horas de história, reage aos problemas: decide exilar o irmão de uma vez por todas.  Após o momento em família, o rei demite Otto (Rhys Ifans) como Mão do Rei. Prestando seu respeito ao homem que acompanhou e serviu dois reis, Viserys explica que finalmente entendeu as motivações do ex-amigo em tantas coisas e, também, em seu casamento com Alicent — vamos dar um desconto ao velho rei, ele realmente tentou ser amigo de geral, pena que não conseguiu. O projeto “3 episódios em vinte minutos” termina com Viserys determinando que a filha casará com o herdeiro dos Velaryons, Laenor. Independente dos protestos da princesa e de suas alfinetadas, o rei determina seu casamento, seu dever e o fim de uma era de liberdades e regalias. O episódio acaba com a princesa sendo atendida pelo Meistre que lhe dá um chá de lua, ou o famoso abortivo. O preparo é pedido pelo Rei, garantindo que a filha não terá nenhum filho do tio. Mesmo com o tom de liberdade sexual, é importante ver como Rhaenyra ainda é tratada como uma mulher mesmo: o evento deve ser esquecido por todos e ter qualquer vestígio apagado.

Por fim, alguns pontos importantes de A Casa do Dragão

Uma das cenas com mais apelo aos fãs de Game of Thrones é quando o rei mostra a famosa adaga que está sempre em sua cintura. Enquadrada de maneira atenciosa e peculiar, o objeto já foi alvo de diversas conspirações. Algumas conspirações diziam que a lâmina seria o objeto usado no atentado contra Bran Stark, lá na primeira temporada, responsável pela guerra das famílias. Isso não foi confirmado, mas no último episódio, pudemos vê-la em mais detalhes. A arma não é de Bran, mas sim a usada por Arya Stark na última temporada de Game of Thrones para matar o Rei da Noite. Nesse episódio, Viserys mostra a sua filha o segredo do artefato. A lâmina está gravada com os dizeres de Aemon Targaryen, o conquistador. Lembra, lá no primeiro episódio, sobre o segredo que é repassado de Targaryen e Targaryen sobre o príncipe que foi prometido? É o mesmo discurso. Viserys conversa sobre a visão do antepassado, como é importante a eles que a tradição continue com o dever e o segredo de, futuramente, ter o príncipe prometido e ser um Targaryen. Além de ser mais uma conexão forte com Game of Thrones, afinal, é bom manter um nível de apelo aos fãs mais nostálgicos, a arma é uma influência direta de George R. R. Martin. O escritor, em entrevista, já explicou que o final dos livros será diferente, e A Casa do Dragão é um pequeno recado. Para encerrar nosso texto semanal de A Casa do Dragão, temos de novo várias referências a Game of Thrones. O teatro, algo usado muito nos arcos de Arya Stark, ou ainda a previsão de uma bruxa para Rhaenyra rapidamente, sem mencionar a árvore onde tio e sobrinho conversam a primeira vez. São essas pequenas conexões que mantém um público fiel mesmo quando episódio é morno. O próximo episódio de A Casa do Dragão estará disponível no domingo (17), às 22h nos canais da HBO ou pela plataforma de streaming HBO MAX.  Aproveitei para ver quais são as diferenças entre os personagens de A Casa do Dragão no livro Fogo & Sangue. 

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